sexta-feira, 22 de abril de 2011

Crônicas de Um Samurai Urbano 7

Capítulo VII - O Combate difícil - O Inimigo dos olhos violeta.

A temida área Maverick se aproximava, enquanto os Hunters percorriam o caminho até ela. Akira e Himiko pareciam ansiosos para a chegada, mas não chegavam nem perto da ansiedade de seu capitão.

Youta estava de olhos focados em sua frente. O golpe de Morisato em seu braço, a risada irritante e até mesmo as lembranças faziam-no acelerar cada vez mais para aquela direção. A chaser estava fazendo sua quilometragem máxima quando o Hunter finalmente chegou até o local.

As Áreas Maverick eram desoladas e destruídas. Prédios caindo aos pedaços, o solo irregular e quebradiço, e muitos esqueletos no chão, além de um cheiro forte de amônia, substância presente no soro dos Mavericks.

Youta, Himiko e Akira desceram de suas Chasers na frente do local desolado. Youta apoiou sua mão em sua Katana e começou a avançar. Himiko e Akira o seguiam em silêncio, atentos às laterais. O Hunter samurai estava concentrado, ouvindo atentamente para não ser pego de surpresa. Então, finalmente, se voltou aos seus subordinados e disse:

- A Área é muito grande e eu preciso me concentrar na luta com Morisato, mas pode ser que eu encontre pessoas em perigo ou outros Mavericks de poder menor. Eu peço para que vocês enfrentem os demais Mavericks e resgatem os possíveis sobreviventes presos na área. E lembre-se, dêem um disparo para cima se precisarem de ajuda.

Himiko abriu a boca para protestar, mas Akira deu um toque leve no ombro da menina e disse:

- Ok, capitão.

Youta se voltou de costas e começou a se apressar. Akira e Himiko se olharam e então, se separaram indo cada um para uma direção, até saírem do campo de visão do capitão. E ele começou a andar em direção ao centro do local, prestando atenção em tudo que se movia. Mas não viu nada que lhe chamasse atenção. Já estava desistindo de procurar e se preparando para ir atrás dos seus comandados, quando algo chamou sua atenção.

Youta, com sua percepção aguçada, notou que algo passara rapidamente atrás dele. Um borrão, um vulto. Ele colocou seu polegar esquerdo na empunhadura da Katana, pronto para sacá-la e redobrou suas atenções.

O vulto tornou a passar, desta vez pela frente e Youta percebeu que antes de se esconder atrás de um monte de entulho, um brilho de seus olhos arroxeados relampejou. Youta não teve mais dúvidas. Correu em direção ao monte de entulho e contornou-o, já pronto para sacar a Katana.

Mas não era Morisato que estava atrás do monte de entulho.

Youta se assustou. Ao invés de Morisato, o rapaz viu um guerreiro de armadura vermelha o encarando com um olhar assassino. Seus olhos eram violeta e ele tinha uma expressão insana em seu rosto.

Ele era alto e tinha um corpo esguio e forte, demonstrando grande vigor. Usava uma malha negra, com as luvas brancas, como quase todos os guerreiros que usavam trajes de batalha. Sua armadura vermelha era relativamente simples, no tradicional estilo de botas e braços grossos, sendo que nestas estão presentes detalhes em branco e amarelo. A peça dos antebraços se prolongava nas costas da mão, formando uma proteção de forma triangular. Os ombros são brancos, embora cobertos por ombreiras quadradas e de bordas vermelhas, onde há, em uma delas, um “Z” estilizado. No tronco da armadura havia duas esferas esverdeadas encaixadas na parte superior.

O elmo possuía uma parte superior branca e uma peça vermelha que se inicia nas laterais e se prolonga em duas extremidades pontiagudas, que se encontravam na parte de trás da cabeça. Os auriculares são brancos e na testa havia uma gema também violeta, piscando de forma intermitente. De um espaço na parte traseira do elmo saía uma peça azul que prendia os cabelos dele, estes loiros, volumosos e bastante longos, ao ponto de quase alcançarem seus pés. A armadura tinha uma série de arranhões e avarias, os cabelos estavam desgrenhados e em sua mão ele segurava um saber com a lâmina roxa e trêmula. Mesmo com este aspecto, Youta ainda sim o reconheceu. Era Zirow, ou Zero como era chamado na Hunter Base. O comandante da Área de Infiltração e Assalto da Base Hunter.

O Hunter se aproximou de Zero, hesitante por causa do olhar agressivo e insano do comandante e disse:


- Zero-sama?


Neste momento, Youta teve que se esquivar, pois Zero atacou. O comandante enlouquecido golpeou o estômago de Youta com um movimento rápido em arco com seu braço desarmado, com os dedos flexionados em garra. E então, ele rugiu.

Rugiu enraivecido e saltou para cima de Youta. Suas poderosas pernas o impulsionaram velozmente para o alto, propelindo-o cinco metros para o alto. Youta tinha escapado do arranhão dele, mas talvez não conseguisse esquivar-se daquela investida.

O samurai pensou rápido. Saltou para o alto e sacando velozmente sua Katana, interceptou o saber roxo do comandante. O campo magnético de sua lâmina bloqueou a lâmina de Zero, fazendo um choque entre elas e obrigando Youta a descer junto com o comandante. No caminho, Zero chutou-lhe o estômago, jogando-o para trás. Youta caiu rolando para trás. Ele se ergueu e gritou:


- Zero-sama! O que está acontecendo? Pare!


Mas mesmo depois do grito de Youta, Zero rangeu os dentes e avançou velozmente para cima dele. Youta então entendeu: Zero tinha sido infectado pelo vírus Maverick, assim como Morisato. Não havia maneira de pará-lo, a não ser...

O capitão da 14ª Divisão franziu o cenho e, segurando sua Katana em posição de Battoujutsu, correu em direção a Zero no momento em que ele avançou. Zero ergueu o saber e o desceu velozmente contra Youta, mas, já preparado desta vez, Youta colocou o pé esquerdo posicionado perpendicularmente ao corpo à frente e girou em um hábil arco por dentro das defesas de Zero, sacando a espada em arco. E então, ele entoou mais uma de suas técnicas:

- Kuroekkusuken Harikēn!

Youta rodopiou em seu próprio eixo, passando a Katana várias vezes sobre o tórax de Zero, como um furacão de lâminas.

Mas Zero sequer se mexeu perante o movimento. Tudo o que Youta conseguiu foi deter o movimento em alta velocidade de Zero, nada mais.
Zero então apanhou Youta pela cabeça e correu com ele até um monte de entulho, enfiando o samurai nele. Youta tentou frear com seus pés a ação de Zero, mas foi irresistivelmente puxado e colidiu com força no entulho. Zero puxou-o pelo rosto e tornou a bater diversas vezes, sem parar. As pedras irregulares perfuraram a pele e um pouco da estrutura óssea de Youta, soltando seu rabo de cavalo e espalhando seus cabelos sobre as mãos de Zero, fazendo com os olhos do Hunter se arregalassem de dor ao sentir seu crânio ser esmagado por Zero.

Zero bateu uma vez. E Youta contraiu os músculos de dor.

Zero bateu a segunda vez. E os músculos de Youta tremeram.

Zero bateu a terceira vez. Youta quase desfaleceu.

E quando o enlouquecido comandante iria chocar a cabeça de Youta contra a parede uma quarta vez, este reagiu. Enfiou a Katana fundo no estômago do comandante Hunter e o agarrou pelo pescoço, puxando-o por cima dele e o atacando Zero na mesma parede onde tinha sido enfiado à força.

A cabeça de Youta pingava sangue e ele estava tonto. Zero já se levantava. O cristal e os olhos retiniam o brilho roxo em harmonia, enquanto Zero saltava em direção à Youta. Seu saber se esticou contra Youta, chicoteando o rapaz, mas desta vez, pela tontura, Youta não conseguiu erguer a Katana a tempo e recebeu o corte no ombro. Zero não se deteve e usou sua clássica seqüência de golpes. Após golpear o ombro de Youta, ele girou seu corpo, acertando o Hunter no estômago, girou mais uma vez, golpeando diagonalmente de baixo para cima e por fim, enquanto Youta subia, chutou-o violentamente no rosto, jogando o rapaz para trás. Youta colidiu contra um prédio destruído.

O Hunter estava sem forças. Ele se ergueu com dificuldade, apenas para ver o pé de Zero subir novamente em seu rosto. Ele caiu para o lado e tentou erguer a Katana, mas Zero cravou o saber em suas costas, fazendo com que se dobrasse em dor. O Comandante então ergueu Youta pelo pescoço e o arremessou com força contra o prédio. Youta entrou com as costas na edificação, caindo ensangüentado dentro dela. Zero já vinha vindo, mas desta vez, Youta sentiu.

Zero iria matá-lo.

Youta não saberia dizer o que aconteceu. Mas não quis desistir ali. Não iria morrer nas mãos de Zero. E isso lhe deu forças para levantar. Ele sentia seu sangue borbulhar enquanto levantava. Ao perceber o comandante se aproximar, Youta se levantou. Sentia seu corpo leve e uma estranha sensação, uma vontade incontrolável de golpear Zero até que ele caísse.

Youta estava de cabeça baixa quando Zero entrou, com as mãos abaixadas. Zero encarou Youta e ao ver que ainda não estava abatido, correu com seu saber na altura da cintura. Iria fazer uma espécie de Battoujutsu com o saber. Zero correu e golpeou em arco, como Youta geralmente fazia.

E Youta levantou a cabeça. Por baixo dos longos cabelos negros e soltos do samurai, seus orbes estavam cor de sangue. Ele ergueu a espada de cabeça para baixo, bloqueando o golpe do saber de Zero. Sua lâmina retinia, fazendo com que faíscas roxas saltassem da Katana e da lâmina de Zero. Youta estava com uma expressão séria quando puxou a Katana para cima e chutando o rosto de Zero com força para trás. Devido à força que exercia Zero não conseguiu evitar o golpe, pois cambaleou quando Youta puxou a espada. O samurai então investiu em direção à Zero, que o recebeu correndo para cima dele.

Youta atacou velozmente com sua lâmina pela lateral, e abaixou o corpo. Zero recebeu o corte, mas quando foi contra golpear errou, pois Youta tinha se abaixado. Zero então girou o saber por cima de sua cabeça, e golpeou para baixo. Youta esquivou-se do corte saltando velozmente para o lado. Tomou impulso em uma das paredes do prédio e cortou as costas de Zero, que só se voltou após o corte ter acontecido.

O corpo de Youta estava mais firme e leve, ele não sentia mais a tontura da dor dos golpes. Apenas aquele desejo de fazer Zero sangrar e pagar pela surra. Zero por sua vez, estava estático. Parecia estar com mais ódio ainda e se voltou para Youta, correndo com o sabre energético abaixado, destruindo o chão por onde ele passava. Youta se firmou e esperou o golpe de Zero, que veio de baixo arrastando pedaços de entulho conforme subia. Youta saltou para trás, se apoiou no pé esquerdo ao fim do salto e saltou para frente novamente, atacando o tórax de Zero. Desta vez, o efeito do corte foi outro, cortando parcialmente a armadura e o tórax de Zero. O comandante vermelho cambaleou, mas saltou para o lado e girou o corpo, pronto para receber Youta com um corte nas costas.

E o Hunter negro virou seu corpo e bloqueou novamente o saber de Zero, forcejando contra ele. O comandante forçou o sabre com ímpeto e Youta defendeu-se, forçando contra Zero. O solo começou a trincar sob os pés de ambos, seus olhos, de um lado orbes vermelhos e do outros orbes púrpura, se fuzilavam. Os cabelos esvoaçavam devido aos velozes golpes de ambos. A força dos dois era tremenda.

E mesmo a despeito de todo o ódio que sentia, o rapaz pôde notar o cristal de Zero, que brilhava da mesma forma que seus olhos, na mesma intensidade. Isto intrigou o rapaz e o fez pensar que talvez não fosse Zero que estivesse o atacando. Aqueles olhos e aquele cristal pareciam um led piscando. E sendo assim, Youta decidiu destruir aquele led.

Mas este instante de distração por parte do samurai foi suficiente para que Zero o golpeasse. O vermelho forçou mais o saber e flexionou os dedos, arranhando o rosto de Youta velozmente. E assim que Youta cambaleou, o saber de Zero fez contato com seu ombro esquerdo, acertando seu tórax logo em seguida num corte horizontal. Youta se firmou e saltou para trás, quicando com os pés em um monte de entulho e levando a luta para o alto. Zero o seguiu, como Youta sabia que ele faria. Trocaram alguns golpes em alta velocidade no ar, enquanto ziguezagueavam sobre os montes de entulho. Zero estava ficando um pouco mais lento, parecia estar ficando cansado. Youta estava voltando a sentir as dores dos golpes, mas de forma mais branda. Ele sabia que tinha que cessar aquele combate o mais depressa possível.

E então, Youta rodopiou o corpo no ar e desceu retalhando o rosto de Zero. O corte não atingiu a face, mas acertou exatamente onde Youta queria.

No elmo de Zero.

A lâmina da Kuroekkusuken atravessou o elmo e o partiu em dois, acertando a gema nele. Os cabelos dourados de Zero se espalharam sem cuidado e Zero caiu no chão. E foi neste momento que Zero caiu.

O Hunter escarlate ficou de joelhos, segurou sua própria cabeça e começou a berrar de dor. Ele pressionava o próprio crânio, gritando e se debatendo.

Youta caiu no chão e sentiu suas forças se esvaírem. As dores tinham voltado com força total. Ele olhou para Zero gritando e tentou andar até ele, mas seu corpo não tinha mais forças. Aquilo tinha sido demais para ele. O Hunter olhou para Zero e caiu. Se aquilo não tivesse dado certo, certamente morreria ali.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Crônicas de Um Samurai Urbano 6

Capítulo VI – Revelações

As reações naquele quarto foram as mais diversas. Ariel arregalou os olhos e estes faiscaram. Zeta olhava sem entender para Youta, desde que este tinha entrado. E Youta fitava o rapaz em coma e sacudia-o, para que ele despertasse.
Ariel o afastou dizendo:

- Ei, pára com isso!!! Ele tá em coma!!!

- Coma? - perguntou Youta, surpreso.

E assim iniciou-se um diálogo estranho, no qual os dois pareciam falar sozinhos:

- O que você sabe sobre ele? – perguntou Ariel, ignorando a surpresa de Youta.

- Como ele chegou aqui? – perguntou Youta, sem responder.

- De onde ele veio? – perguntou Ariel, ignorando a pergunta de Youta.

- Por que ele não entrou em contato? – perguntou Youta, sem dar resposta a Ariel.

- Contato? Contato com quem? – perguntou novamente Ariel, sem falar a Youta.

- Você tem dado que medicação a ele? – perguntou ainda Youta, passando por cima da interrogativa da garota.

- Ekkusu? É este o nome dele? Ele tem que idade? – perguntou Ariel, fervilhando de curiosidade e desprezando a pergunta feita a ela. 

Zeta movia a cabeça de Youta para Ariel, de um lado para o outro, como se estivesse seguindo uma bola em um jogo de tênis. As perguntas surgiam e ficavam a pairar no ar, sem que ninguém respondesse coisa alguma. Zeta ficou olhando aquilo até se irritar e gritar:

- CHEEEEEGAAAAA!!!!

Ele segurou Ariel pelos ombros e disse:

- Parem com isso, vocês estão me deixando maluco. Ninguém vai saber de nada desse jeito. Ok, vamos tentar assim: Você nos diz o que sabe sobre ele e nós explicamos o que aconteceu para ele estar aqui. Fechado..? E a propósito, quem é você? Eu sou Zeta, mais conhecido como “O Arrasa-corações da Resistência”. – concluiu ele, esticando seu polegar para cima, em sinal de positivo.

Youta olhou a apresentação ridícula de Zeta e respondeu, avaliando a proposta:

- Meu nome é Miyamoto Youta. Proposta interessante. Mas vocês começam. – disse ele, com a mão apoiada na Katana.

- O “Grande Samurai Negro”?? Uau, cara, eu sou seu fã!!! Autografa meu tênis com sua Katana?? Nossa, você viu Ariel, que demais?? – disse Zeta impressionado levantando o pé e expondo a sola de sua botina para Youta.

- Não é demais, Zeta?? Eu também achei o máximo quando descobri!! Você sabia que ele abriu 40 carros civis com um golpe de Katana?? – disse Ariel empolgada.

- Sabia!!! E aquela que ele sozinho lutou com um exército de mais de 2000 Mavericks, usando apenas a sua Katana e um fio metálico e venceu todos?? – Zeta disse, ainda com o pé levantado e inflamado pela empolgação de Ariel.

Youta pigarreou alto, para cortar a conversa. Não se lembrava de ser “O Grande Samurai Negro” e nem de ter feito nada daquilo. Manteve a ordem e para que Zeta abaixasse a bota, que já estava próxima ao seu nariz, ele recuou um passo e com a ponta da Katana, escreveu seu nome embaixo na sola do calçado do mecânico.
Ariel se calou no mesmo instante. Zeta, ao sentir a lâmina afiada passando rapidamente por sua bota, ficou mudo e começou a tremer. A expressão de concentração de Youta o amedrontou profundamente. Assim que abaixou a Katana, Youta encostou-se na parede e disse:

- Expliquem-se.

Ariel começou a relatar como tinham encontrado o Capitão Ekkusu e como tinham feito para cuidar dele. Contou também que fora Zeta quem a ajudou a consertar a armadura do capitão, a mesma que o mantinha vivo. Ariel ainda contou sobre a recuperação e sobre as notas que tomava em seu caderno sobre as melhoras de Ekkusu. Contudo, ela não disse nada sobre as conversas unilaterais que tinha com o capitão.

Youta ficou em silêncio, ouvindo o relato de Ariel. Lembrava-se vagamente no Capitão Ekkusu. Geralmente os Hunters mais antigos o conheciam, mas Youta não havia tido muito contato com ele, antes que este desaparecesse. 
Em seguida como havia prometido, resolveu começar a contar sobre o Capitão Ekkusu.

Ekkusu Whight era positivamente o Capitão mais forte da Hunter Base. Enfrentava muitos “Boss” sem dificuldade, tinha uma ficha impecável e era o Beta Tester de várias armaduras. Porém, a que Ekkusu mais gostava era a X armor, a que ele usava no momento. Sua primeira armadura de batalha. Foi com ela que Ekkusu vencera o primeiro combate contra Mavericks. Youta tinha o visto pela última vez antes que ele fosse na missão da qual não retornara. E agora ele sabia o porquê.

Após terminar seu relato, Youta balançou a cabeça. Desanimado, ele disse: 

- É uma pena ter perdido o Capitão Ekkusu e os outros. Ele seria de grande ajuda agora.
E ao ouvir isso, Ariel ficou revoltada:

- Como assim, ter perdido o Capitão Ekkusu?? Ele pode estar em coma, mas ainda não morreu!! Ele respira, tá vendo? Ele vai levantar, tenho certeza!!!

Youta, porém, não tinha tanta fé quanto a garota. Apenas suspirou e olhou para a dupla. Deu de ombros e disse:

- Tudo bem. Mesmo que ele acorde, vai estar fraco e não poderá ajudar em nada. Ele é só um vegetal, não adiantar depositarmos nossas esperanças em um capitão acamado.

Quando Youta terminou de falar, franziu o cenho. Ariel tinha arremessado a cadeira em cima dele, que simplesmente a destruiu com um movimento de braço para se proteger. Estreitou os olhos, e encarou a garota, que tinha começado a gritar:

- Até você, Grande Samurai!?!?! Não preciso que ninguém diga o estado do meu paciente!!! Eu SEI que Ekkusu vai se recuperar, não estou supondo!!! E pela última vez, ele não é um vegetal!!! – Vociferava Ariel, furiosa com Youta. Ela tinha perdido as estribeiras e não media conseqüências. Zeta tentava fazê-la calar, enquanto Youta apenas olhava-a com descaso.

Enquanto a discussão seguia acalorada, um alarme tocou na sala. Todos ficaram apreensivos. Tendo morado na Resistência, Youta sabia o que aquele alarme significava: Feridos gravemente. O alarme era para reforçar o auxílio médico e as defesas da Base. Youta, Zeta e Ariel deixaram a discussão para depois. Youta e Zeta saíram correndo em direção a entrada. 
Quando olharam para trás, viram que Ariel os tinha seguido. Nas portas, estavam vários soldados da Resistência feridos, sendo atendidos por auxílio médico. Ariel foi na mesma hora ajudar os feridos. Zeta trouxe uma máquina para auxiliar o atendimento. Tinham vindo de uma Area Maverick e tinham sido atacados, óbvio.
Youta porém, olhava para um rapaz que estava ferido a cortes. Ele logo imaginou Morisato e pensou em sua desforra. Abaixou-se ao lado do rapaz e perguntou quem havia feito aquilo.

O rapaz respondeu-lhe:

- Eu não vi, foi muito rápido. Só pude notar que ele tinha os olhos arroxeados. – ele tossiu e Ariel logo se ajoelhou ao lado do homem e começou a tratá-lo.

Youta se levantou. Suas suspeitas tinham sido confirmadas. Morisato estava por ali. E ele iria atrás dele. Sem dizer nada a ninguém, Youta foi até seu quarto. Vestiu sua armadura e se encaminhou para o Hangar do lugar. No meio do caminho encontrou Akira e Himiko. Eles já estavam com suas respectivas armas e armaduras e ambos olhavam para ele. Himiko disse:

- Capitão, desta vez vamos juntos atrás dele. Nós ouvimos você conversando com o ferido. É o Morisato, não é?? – concluiu a moça, perguntando.

- Sim... Mas irei sozinho. Fiquem. – respondeu Youta, passando por eles.

- Se tentar ir sozinho, iremos sozinhos atrás de você. – disse Akira, deixando que passasse.

- Que assim seja. Mas a minha ordem é que fiquem. Se me seguirem, vai ser por sua própria conta e risco. – disse Youta, se afastando.

Himiko sorriu. E piscou para Akira, que apenas deu de ombros e seguiu Youta. Os três pegaram três Chasers e pediram informações de onde tinham vindo os Resistentes. Dito isso, pegaram a rota, em direção à Area Maverick da qual tinham voltado os feridos.

[6º Capítulo, curto, mas postado. Aguardem o 7º Grandes emoções e lutas eletrizantes em "O Combate difícil - O Inimigo dos olhos violeta!!!]

Crônicas de Um Samurai Urbano 5

Capítulo V – A Resistência: O Passado vem á Tona.

Youta despertou, como se estivesse sentindo seu corpo flutuando. Sua mente estava limpa, tranqüila, em paz. Manteve os olhos fechados. Estava relaxado, querendo voltar a dormir. Mas sentia uma ponta de preocupação com algo. Algo que não conseguia lembrar. Tentou se lembrar da noite anterior, aonde tinha adormecido...
Súbito, lembrou-se com velocidade. O ataque à cidade, a luta com Morisato, a queda da ponte e a inconsciência que se seguiu.
Assustado, abriu os olhos.
Estava confortavelmente deitado em uma cama d'água em um quarto sem janelas, com as paredes de metal descoberto, exibindo as estruturas mecânicas. Seu braço esquerdo e costas estavam enfaixados e não doíam mais. Preocupado, olhou a sua volta.
Sua armadura jazia a um canto, restaurada dos cortes que havia recebido e sua Katana repousava ao lado dela, apoiada em uma espécie de suporte improvisado de metal.

O quarto lhe parecia familiar, mas ainda sim, Youta não ficou calmo. Mesmo por que viu uma porta, invisível até o momento, se recortar na estrutura e se abrir defronte dele. Por esta porta, entrou uma garota. Ela era loura, tinha os olhos azuis e aparentava ser bem nova. Seus cabelos eram longos, soltos naturalmente, com franjas caídas por sobre a testa e cobrindo parcialmente os olhos. Por serem muito cheios e vivos, os cabelos pareciam pesados, quando caíam aos lados do rosto da garota, emoldurando-o. Talvez num intuito de mantê-los obedientes e tirá-los dos olhos dela, dois laços rosados estavam presos dos lados dos cabelos, deixando-a com um ar inocente e infantil.
Suas roupas, porém, eram a parte mais exótica do conjunto. Ela usava um jaleco branco, a guisa de sobretudo, que se estendia até as coxas da garota. Por baixo do jaleco, uma camiseta leve e branca, sem mangas e uma saia plissada azul marinho completavam o conjunto. Seus sapatos eram baixos e negros, e por fim, ela carregava uma maleta de medicamentos, com uma cruz vermelha inscrita nela.
Sem cerimônia, a garota abriu a maleta e tirou dela uma seringa. Encheu o êmbolo com um líquido verde de um frasco que ali estava. Estava tão distraída com isso, logo na entrada, que não notou que Youta havia se levantado rapidamente e apanhado sua arma.
Quando a menina se aproximou da cama, e enfim ergueu os olhos, Youta já tinha rolado para trás dela e agarrado seu pescoço de supetão. Colocando a Katana no pescoço da garota, acima de seu braço que agarrava, Youta perguntou, ríspido:

- Onde estou?

- Aaaiii! Nyaaaa! Calma! O Senhor está na Resistência. Está tudo bem! Pode me soltar, moço? – Respondeu a menina inocentemente, assustada com a manobra súbita e começando a sentir-se sufocada pelo braço de Youta.

- E quem é você? – perguntou novamente o Hunter, ainda segurando a lâmina e o braço no pescoço da menina.

- Meu nome é Ariel Masters, e eu sou médica de campo... Dos... Resistentes... Cof... - concluiu a menina, tossindo de falta de fôlego. Estava desfalecendo rapidamente. Se continuasse segurando-a, ela desmaiaria, o que não era nenhum pouco interessante naquele momento.

Youta recuou cuidadosamente, encostando a Katana no pescoço da menina sem feri-la. Com o mesmo tom inquisitivo, ele prosseguiu:

- Como cheguei aqui?

- Os resistentes descobriram que um hospital próximo daqui, do outro lado da ponte, estava sendo atacado por Mavericks. Quando chegamos lá, vimos vários indivíduos estranhos se atacando e destruindo tudo. Um garoto com cara de maluco em cima de um mecha, um homem com membros de metal de fogo, um tipo de ninja esquisito, um rapaz com um bastão de Baseball gigante, que destruiu um prédio, e uma garota, que estava seqüestrando um capitão Hunter todo ferido, ou seja, o senhor. Nós os neutralizamos, e por sabermos que eles não eram Mavericks, apenas Irregulares, nós os trancafiamos aqui para conseguir maiores informações. Então, fizemos um rápido auxílio médico no senhor e trouxemos para cá. – concluiu Ariel, falando rápido, olhando de canto, ainda com medo para a Katana.

Youta tirou a lâmina do pescoço da médica e ficou pensativo. Estava na Resistência. Isso o animou, ligeiramente. Conhecia a Resistência. Mas ainda tinha que ter certeza. Tinha ainda outra preocupação: as descrições dos Irregulares batiam com a de sua Equipe. Segundo Ariel, eles estavam trancafiados, mas Youta sabia que a Resistência não era de fazer prisioneiros. Por duas razões: as instalações eram pequenas, e eles eram um grupo de puro combate contra os Mavericks. Não havia necessidade de prender Irregulares. Eles também eram Irregulares. E quem não estivesse com os Resistentes, estava contra eles.
Sem se alterar, Youta disse:

- Me leve até os prisioneiros. Agora.

- Tá bom, tá bom... Nya, não precisa ficar bravo... – disse Ariel, olhando para a Katana receosa.

Youta a retirou dali, colocando-a na cintura com sua respectiva bainha. Ariel respirou aliviada, e saiu pela mesma porta que tinha entrado. Youta a acompanhou, sem dizer nada.
Assim que saíram, as dúvidas de Youta se dissiparam: estavam realmente na Resistência Civil.

A Resistência Civil era um grupo de campo, que lutava contra o controle de Sigma Red, usando armas ultrapassadas e baixos recursos. Não eram reconhecidos pelo governo, sendo apenas uma facção anarquista, segundo eles.
As bases da Resistência eram espalhadas pelas cidades, sendo pequenos postos avançados localizados em qualquer cidade que sofria ataques. A Base Central, esta ficava em um ponto remoto, num antigo armazém abandonado. Youta e Keiichi tinham sido integrantes da Resistência. Tinham nascido entre ela. Os pais de Keiichi e a mãe de Youta eram membros da Resistência Civil. Tinham sido educados a odiar os Mavericks desde pequenos. Era por isso que Youta não conseguia acreditar que Morisato Keiichi tivesse esquecido tudo.
Na época de Youta, a Resistência Civil contava com poucos membros. A Resistência podia fazer pouco sozinha, mas muitas vezes, auxiliava os Hunters em resgates, sendo uma espécie de suporte eventual para eles. 
Os Resistentes tinham um tipo de liderança coesa. Todos obedeciam somente a um único Comandante. Este determinava o que os grupos iriam fazer. Os grupos eram criados de acordo com a necessidade. Cerca de trinta ou quarenta pessoas faziam parte deste grupo. Com os ataques Maverick frequentes, algumas pessoas começaram a querer se defender por conta própria. Mecânicos ajudavam na construção de armas e veículos. Médicos faziam o trabalho de cuidar dos feridos em campo ou na própria base. Engenheiros e Técnicos de Informática Avançada faziam complicados sistemas de segurança e dispositivos de invasão eletrônica a partir da sucata. Pessoas antes comuns empunhavam armas e se tornavam guerreiros para poder resistir aos ataques, pelo menos até que algum Hunter viesse. Esta era a vida de um Resistente.
Andando por sinuosos corredores, Youta notou que estavam na Central, local onde tinha nascido. Se lembrava perfeitamente. Estavam na Ala Médica.
Youta se voltou para Ariel, que seguia a frente dele. Olhando bem, ela aparentava ter uns 16 anos, mas com uma feição bem mais jovial. Viu que ela massageava o pescoço, com uma expressão de incômodo em seu rosto. O mesmo estava avermelhado da pressão do braço de Youta, e ele pensou que podia tê-la machucado menos. Mas isso não importava naquele momento. Estava preocupado com sua equipe ainda.
No entanto, apesar de estar vestida com um jaleco, a menina aparentava ser bem jovem. Youta se perguntou quando ela teria entrado na Resistência e por quê.
Assim pensando, eles chegaram ao salão principal. Este lugar era a parte maior do armazém. Ali haviam vários veículos e mecânicos os concertando. Vários Resistentes estavam por ali, treinando, concertando alguma coisa, ou simplesmente relaxados, passeando por ali. Havia um grande computador, do lado sul da sala, com várias telas e teclados, nos quais haviam quatro pessoas sentadas operando. Existiam também alicerces, que erguiam andaimes, que funcionavam como elevadores de carga.
Porém, a atração principal daquele estranho espetáculo era o centro da sala onde alguns containers transparentes, com campos de força embutidos serviam de “jaulas” para a equipe Hunter abatida. Youta passou os olhos rapidamente por eles.

Kazuya estava de cabeça baixa, encostado numa das quinas de metal do container, sentado com as pernas esticadas e os braços abaixados. Suas próteses estavam em estado deplorável, destruídas e chamuscadas. Ele parecia exausto.

Himiko estava de bruços no chão do container. Estava seminua, devido a estar sem sua armadura. Hunters não usavam roupas por baixo da malha metálica, isto era fato. Estava com uma expressão cansada e parecia cochilar. Era a que estava em melhor estado.

Victor estava ajoelhado próximo a parede do Container. Suas mãos estavam marcadas por contusões e escoriações. Parecia ter tentado esmurrar a parede para sair. Também estava só com uma espécie de Short vermelho, e parecia cansado.

Akira estava com seu sobretudo fechado. Parecia estar sem a armadura por baixo dele, pois estava parecendo bem mais magro. Estava de braços cruzados a um canto, como sempre. Porém, parecia abatido. Estava com os olhos fechados e seu peito subia e descia rapidamente.

Chrono era o mais machucado de todos, talvez com exceção à Kazuya. Estava todo queimado, e tremia, como se estivesse sobre efeito de uma corrente elétrica. Em suas mãos queimadas, estava o controle de Inu. Youta não viu sinais do Robô e nem das armas de seus aliados.

Um homem com uma branca branca cerrada tomava conta do container. Ele tinha uma perna biônica, parecida com a prótese de Kazuya, porém bem menos trabalhada. Usava um macacão roxo e tinha óculos enormes. Ao ver Ariel chegando, ele disse:

- Ah, finalmente chegou, Ari-chan! Os rapazes precisam de cuidados aqui. Eu sei que o chefe disse que é melhor não cuidarmos deles, mas...

- Eles são Hunters. São minha equipe. – disse Youta, subitamente.

O velho emudeceu. Olhou para Youta com um olhar de dúvida. Parecia estar tentando entender o que o jovem queria dizer. Ariel se apressou em completar:

- Ele é Capitão Hunter. E eles são a equipe dele, que trouxemos para cá pensando que eram Irregulares. Certo, senhor...? – disse Ariel, lembrando que ele não havia se apresentado.

Antes que Youta respondesse, um outro homem de idade entrou na sala. Ele tinha os cabelos castanhos, cortados bem curtos, e um cavanhaque com uma barbicha protuberante. Usava um tapa-olho no lado esquerdo e um sobretudo, ambos negros. Suas botas eram metálicas e ele usava luvas de ferro estranhas. Vinha apoiado em uma bengala, mas parecia não precisar dela. Ele olhava para Youta e para os containers com desprezo.

- Hunters... Interessante... Agora vocês aparecem em uma equipe? Aonde estavam vocês, na época em que nós precisamos nos esconder dos Mavericks? – disse ele, com revolta na voz.

- Comandante Jason! – disseram Ariel, o Mecânico e Youta em uníssono.

O comandante entendeu o comportamento de Ariel e do mecânico que ali estava. Ficavam surpresos quando ele aparecia. Mas o Hunter chamá-lo pelo seu nome era algo novo, pois somente os Resistentes o conheciam.
Todos emudeceram, ao ouvirem o anúncio de Youta. Ele suspirou, ao ver que até mesmo sua equipe de Hunters olhava para ele perplexa. Então, ele se identificou, para livrar os mal entendidos:

- Eu sou Miyamoto Youta, Capitão da 14ª Divisão da Base Hunter e antigo membro da Resistência Civil. Sou filho de Miyamoto Miyuki, a Exploradora de Áreas Maverick.

As reações que se seguiram foram das mais variadas.
O Comandante Jason arregalou seu olho visível, e coçou seu cavanhaque. O mecânico olhou estupefato para ele, falando sozinho. Os seus Hunters olhavam sem entender coisa alguma, pelo menos os que estavam conscientes.
Porém, a reação de Ariel Masters foi a mais estranha. Ela se aproximou dele, e simplesmente perguntou, apontando para a Katana dele:

- Essa aí é a Kuro-ekkusu-ken?

Youta concordou afirmativamente com a cabeça. Os olhos de Ariel brilharam e ela disse, encantada:

- Nya!! Então, você é que é o “Grande Samurai Negro”? Nossa, espera só até o Nii-san saber!!! 

Youta franziu o cenho. Por que a garota o chamara assim? Mas antes que indagasse por que ela tinha dito isso, Ariel saiu correndo e uma profusão de movimentos o fez ficar alerta. O Comandante Jason e o mecânico se aproximaram, juntamente com um grupo de Resistentes. Então, Jason disse-lhe:

- É um prazer revê-lo, Youta. Bem, espero que tenha mudado de idéia...

- Pequeno Youta! Lembra do velho Kamino aqui?! Rapaz, como você cresceu!!! – disse o mecânico, sorrindo para Youta amigavelmente.

Os Resistentes se aproximavam e sorriam. Lembravam do pequeno e rebelde Youta, uma das poucas crianças da Resistência. Antes que prosseguissem com as recordações, porém, Youta disse:

- Comandante Jason, solte minha equipe e lhes dê cuidados médicos. Eles são Hunters como eu e lutaram com bravura, tenho certeza. Dê a eles o melhor tratamento, como os Resistentes fazem com seus amigos.

Youta falava de maneira convicta, como se soubesse como tratar o velho Comandante. Este sorriu e respondeu o comentário com uma curvatura e um movimento com a mão, indicando que a ordem de Youta fosse atendida. Em seguida, disse em tom grave:

- Precisamos conversar.

- Isso com certeza. Temos assuntos pendentes. – disse Youta, se afastando com o Comandante e entrando em uma sala com ele.

Os hunters foram levados à Ala Médica, aonde receberam tratamento médico. O mecânico Kamino acompanhou-os, para consertar as próteses de Kazuya. Os Hunters estavam cansados e furiosos, mas se deixaram ser cuidados. Victor olhava feio para os Resistentes, que pediam desculpas pelo mal entendido. Porém, aquilo tinha causado desconfiança nos Hunters, que não abaixaram a guarda.

Enquanto isso, Ariel ia até uma das Alas de Treinamento Especial existentes nos quatro pontos cardeais da Base. Estas eram alas com um pouco mais de tecnologia, que dispunham de mecanismos melhores e de armamentos recém-desenvolvidos ou encontrados.
Ela chegou até a Ala Oeste, e gritou bem alto, correndo até o meio do local:

- Nii-san!!!

Neste momento, um rapaz se voltou ao ouvir o grito. Ele tinha longos cabelos negros, a pele clara e os olhos azuis, como os de Ariel. Usava uma camiseta sem mangas negra, uma calça negra um pouco larga, porém justa na cintura, e botas azuis com rebites brancos. Uma armadura azul-elétrico ficava por cima desta indumentária, cobrindo seu peito, antebraços e joelhos. Ao lado esquerdo do rosto, o rapaz possuía uma pequena máscara, que cobria de sua testa até a altura de seu maxilar superior. Ariel corria em direção a ele. Preparado, o rapaz afastou as pernas. A menina pulou em seus braços e ele a acolheu, segurando-a pela cintura em seu colo:

- Opa! O que foi, Nii-chan? – Perguntou ele, com um olhar de interrogação.

Um dos rapazes que treinava ali riu da cena e disse:

- Desse jeito, parece até que a Ariel ainda tem seis anos, não é Lance?

- Acho que a maneira com a qual eu trato, ou deixo de tratar a minha irmã diz respeito apenas a mim, não é? – Replicou Lance, de forma cortês, porém agressiva. O rapaz emudeceu e voltou a treinar.

Ariel ficou apreensiva, e Lance simplesmente disse:

- Continue... O que foi?

- Sabe aquele grupo que nós pegamos? Que estava todo machucado e o Capitão pensou que era um bando de Irregulares? – disse Ariel com a respiração suspensa.

- Sei... O que que há? – retorquiu Lance.

- O Capitão deles é o Grande Samurai Negro!!! O herói da Resistência!!! Que Sugoi!!! – disse a menina, empolgada com aquilo.

Lance ficou em silêncio. O “Grande Samurai Negro” era o membro mais exótico da Resistência, Miyamoto Youta. Poucos sabiam mais que boatos sobre ele. Ariel adorava estas lendas Urbanas da Resistência, nutrindo grande admiração pelo Herói. Ele era como uma espécie de lenda viva na Resistência.
Lance estava pensativo. Se Youta estivesse mesmo ali, então tinha algo acontecendo. Então, ele disse a irmã, com animação:

- Legal! Vamos lá conversar com ele? 

- Depois... Ele é legal, mas tenho algo a fazer... – disse a menina, subitamente preocupada.

Lance pareceu ficar chateado com aquilo. Sorriu um sorriso amarelo e fez um comentário logo após o da irmã:

- Vai cuidar das plantas de novo?

- Pára, Nii-san!!! Você sabe que eu não gosto que diga que “ele” é uma planta. – respondeu a garota, ficando nervosa e se soltando do colo do irmão.

Lance ainda disse, antes que Ariel se desvencilhasse dele:

- É por isso que te chamam de louca! Ele nunca vai acordar!

E Ariel se afastou rapidamente, correndo do irmão. Não gostava quando Lance agia deste jeito. Todos agiam assim. Por que seu irmão não podia ser diferente? Triste, Ariel colocou em mente o que tinha que fazer e foi rápido até uma área reservada da Ala Médica.

Lance porém, tinha outros planos. Tinha que saber se o que a irmã tinha dito era verdade. Iria investigar se era mesmo Miyamoto Youta que estava ali.
Enquanto esta conversa acontecia e os Hunters eram medicados, Youta conversava com Jason. Eles estavam em um alojamento reservado, que servia de sala de reuinões. O Comandante estava preocupado com a Resistência, e expunha isso a Youta:

- Você sabe que a situação da Resistência não é nada boa. Eu sei que nunca fomos os melhores, mas agora está ficando crítico. Sem o apoio dos Hunters fica difícil segurar qualquer ofensiva dos Mavericks. Existem cidades inteiras precisando de reforços!

- Entendo sua posição, Comandante, mas sou apenas um Capitão. Não tenho qualquer influência, a não ser sobre minha tropa. Não posso fazer muito. Posso comunicar os Hunters, mas acho que isso não ajudaria. – respondeu Youta, gravemente.

- Se você voltasse, seria de grande ajuda. – disse o Comandante, com um tom de voz esperançoso.

- Uma vez já fui chamado de “Garoto Inumano” aqui. Eu sempre fui uma aberração. Eu sei que em qualquer lugar que eu for, eu serei considerado assim. Mas não posso deixar o crime cometido por aquele desgraçado impune e o Senhor mesmo disse que a Resistência não iria me ajudar nisso. – disse Youta.

- Você ainda não desistiu de encontrar seu pai, Youta? – disse o Comandante, com um tom de voz já preocupado.

- Enquanto ele viver e eu também, o caçarei. A ele e àquele traidor do Morisato. – disse Youta, com seriedade na voz.

- Ok, Youta, não bateremos na mesma tecla. Descanse com sua equipe aqui, e deixe que se recuperem. Eles estão muito feridos para que você possa tomar qualquer decisão. Seus auriculares foram destruídos por nós, devido as correntes elétricas. Peço desculpas pelo engano, mas minha equipe de manutenção já está trabalhando em consertá-los. Isto posto, eu gostaria de encerrar nossa reunião. – concluiu o Comandante, com um tom de comando na voz.

Youta apenas assentiu com a cabeça. Se encaminhou para a porta e disse, quando chegou à ela:

- E a propósito, também foi um prazer revê-lo, Comandante Jason. – E ao dizer a frase, Youta saiu, fechando a porta atrás de si.

- Garoto Inumano... Eu me lembro claramente disso... – disse o Comandante para si mesmo, coçando o cavanhaque.

Youta foi para a Ala Médica encontrar com sua equipe. Estava pensativo. A Resistência parecia ter prosperado, porém os Mavericks também o tinham. E sem os Hunters lendários, não havia como deter a ameaça iminente de Sigma Red.
Com estes pensamentos, chegou na Ala Médica. Então notou a garota, Ariel, passar correndo até uma sala no fundo do corredor. Youta pensou em chamá-la, pedir desculpas por quase tê-la estrangulado, mas logo desistiu da idéia. Nunca tinha se preocupado com isso, por que começaria agora? Pensando nisso, chegou ao alojamento de sua equipe.
Enquanto Youta chegava ao quarto dos Hunters, Ariel tinha outra coisa para fazer.
Ela chegou a porta daquele quarto reservado. Com um suspiro, entrou.
O quarto parecia-se com um alojamento para dormir. Havia uma cômoda escostada ao lado da porta que Ariel tinha acabado de atravessar. Um guarda-roupa estava apoiado a parede defronte a porta. Sem mais acabamentos, este era o único quarto da Resistência que tinha janelas. Na verdade apenas uma, grande e espaçosa e cuja vista dava para uma ponte, a mesma na qual Youta e Keiichi tinham lutado anteriormente. Estava aberta, com as cortinas esvoaçando e mostrando o lindo pôr-do-sol que estava acontecendo.
Porém não era nada disso que interessava Ariel no quarto. Existia uma cama, com alguém deitado sobre ela, confortavelmente coberto e aconchegado, com o rosto voltado para cima. Ao lado uma cadeira com encostos para os braços e um criado mudo. Neste, um elmo azul estava apoiado. Era muito bonito para os padrões da época, com um belo cristal vermelho que ficava próximo de onde seria a testa de quem o usasse. Detalhes em azul celeste e pequenos círculos negros aos lados adornavam o capacete, que era arredondado, como um capacete de motociclista, porém muito menor.
A pessoa deitada era um belo rapaz de cabelos castanhos. Impossível saber a cor de seus olhos, pois estavam cerrados, o que lhe dava uma expressão tranqüila. Uma de suas mãos estava fora das cobertas, o que mostrava pouco de sua compleição física. O rapaz aparentava ser forte, e tinha a pele clara, mas não delicada. Estava na faixa dos vinte a trinta anos.
Ariel remexeu na cômoda e pegou um caderno e uma caneta. Puxou a cadeira e abriu o livro. Sorrindo, fez algumas anotações e disse:

- Nya... Está tudo bem com você, X-kun? – o tom de voz era animado, mas ela prosseguiu, como se não esperasse resposta. – Você está melhor, segundo alguns exames que fiz. Eu notei melhoras em seus ferimentos e até mesmo nos seus batimentos cardíacos. Em breve, espero que você acorde. – concluiu ela, acariciando os cabelos dele com carinho.

O rapaz não reagiu. Nem sequer um movimento. Era triste ver como um rosto tão bonito estava pálido e inexpressivo, como se o rapaz fosse uma estátua. Ariel encostou a cabeça no peito do rapaz e suspirou. Cansada, ela disse:

- Hoje meu irmão chamou você de planta, X-kun. Rya! Fico muito brava quando fazem isso! Você não é um vegetal! Eu sei que um dia você vai acordar, X-kun... Só precisa de tempo... Não é? – ela completou, olhando para o rapaz enternecida.

Novamente nenhuma reação foi esboçada por ele. Mas pelo movimento de Ariel, uma parte das cobertas que o cobriam tinha descido, mostrando os ombros deste.
Ele usava uma armadura, mesmo enquanto dormia. As ombreiras, única parte visível, era azuis e no ombro direito, um símbolo: Era um brasão em formato de “X”, que adornava a ombreira, como uma patente.
Era por causa deste brasão que Ariel chamava-o de “X-kun”. Nunca o tinha visto acordado, nunca tinha trocado nenhuma palavra com ele. Desde que ele tinha chegado à Resistência...

Tempos atrás, a Resistência estava revistando escombros de uma Área Maverick recém tomada, quando encontraram este rapaz. Ele estava inconsciente e não acordou quando retirado dos escombros. Sua armadura estava avariada e ele com alguns machucados no corpo. Ariel, que havia ido junto com os Resistentes, pediu para que deslocassem-no até o veículo de transporte e levassem-no com eles até a Resistência. Ele era o único sobrevivente daquela área.
Ao chegarem na Resistência, o Comandante disse que cuidassem do rapaz até que despertasse. Porém, ao tentarem remover a peitoral dele, notaram que os tecidos musculares do coração estavam ligados ao reator de energia da armadura. Por algum milagre totalmente inexplicável pela ciência, o reator estava funcionando como uma espécie de marcapasso, mantendo o coração batendo, sendo impossível remover a peitoral sem matá-lo. A razão pela qual o estranho rapaz estava daquela maneira, impossível saber.
Ariel se apiedou dele. Disse que ela mesma cuidaria de X-kun. Com a ajuda de um amigo seu, que era mecânico, repararam a armadura e o reator, enquanto ela cuidava dos ferimentos. Isso já durava dois anos. Desde de o dia em que chegara, o misterioso garoto não acordara.
Ariel suspirou e cobriu os ombros de X-kun novamente, se endireitando. Coçando os olhos, ela voltou a escrever e então, falou:

- X-kun, você acha que fica melhor “Desconsolado” ou “Desolado”? – ela olhou para ele e disse: - É, eu acho que fica melhor “Desconsolado”. Tenho certeza que você concorda comigo...

O sol tinha se posto. E Ariel ficou ali, durante o resto da noite, conversando com o misterioso rapaz. Que durante toda conversa, não deu nenhum sinal de vida.

Enquanto isso, Youta entrava no recinto em que estava sua equipe. Todos voltaram os olhos para ele, furiosos e perplexos. Youta notou que estavam melhores, com curativos como os dele, porém ainda desarmados. Kamino, o mecânico, dava os retoques finais nas próteses de Kazuya, e no momento em que Youta entrou, ele dizia:

- O mecanismo de combustão ficou seriamente comprometido, portanto não consegui salvá-lo. Mas aumentei a potência hidráulica, de modo que elas estão mais fortes e... Ah, Youta, meu rapaz! Tudo ok? – interrompeu-se ele, sorrindo para Youta.

O Capitão não respondeu. Somente disse, olhando para a equipe:

- Kamino, eu preciso conversar com meus comandados. Poderia terminar o serviço em Kazuya e se retirar, por gentileza?

- Ah, claro, pequeno Youta. Com licença... – ele deu um último reajuste rápido nas próteses de Kazuya, e saiu.

Um silêncio tenso instalou-se na sala. Os Hunters olhavam sem entender para Youta. Ele suspirou e sentou-se. Voltaram suas cabeças para ele e esperaram que ele começasse. Então, Youta começou a falar:

- Antes que eu comece meu relato, gostaria de dizer que não sabia que vocês estavam passando por aquilo. Me entreti na luta com Morisato Keiichi e deixei-os de lado. Peço desculpas pelo ocorrido. E agradeço a todos pelos seus esforços e principalmente à Kazuya por salvar minha vida. – O rapaz moveu a cabeça, em sinal de agradecimento.
- Em primeiro lugar, acredito que vocês devem estar tentando entender até agora como eu conheço este lugar e como todos aqui me conhecem, não é?
Bem, vou começar do início. Me interrompam quando se sentirem cansados. É uma longa história...

A Resistência sempre foi um local de descobertas e de grandes surpresas. Exemplo claro disso era um de seus membros, Miyamoto Miyuki. Ela fazia parte de uma equipe de exploração de Áreas Mavericks. Miyuki sempre auxiliava a Resistência com suas descobertas. Estava nela desde que seu irmão mais velho tinha trazido-a para lá.
Miyuki era uma guerreira formidável, e muito querida pela Resistência. Miyuki tinha grande amizade com uma outra Resistente, chamada Tatsuko.
Elas eram inseparáveis, sendo unha e carne. A amizade das duas era algo que as levava a sempre trabalharem juntas. Tatsuko era médica, e por isso quase sempre cuidava dos ferimentos de Miyuki.
Em uma noite, porém, em uma das áreas Maverick, Miyuki e Tatsuko tinham resgatado todos os sobreviventes e esperavam pela chegada dos Hunters, que haviam sido contactados há pouco tempo. Elas já até ouviam um som de motores.
Mas não foram os Hunters que chegaram.
Grandes Chasers, em formas bizarras vinham em alta velocidade. Tatsuko tremeu de medo e disse, apavorada para Miyuki:

- Céus, são Mavericks!! O que vamos fazer, Miyuki?

Miyuki ficou tensa. Eram as únicas que estavam na Área, pois os demais já tinham-se ido. Os Hunters chegariam em pouco tempo, mas até lá, talvez fosse tarde demais para as duas. Não daria tempo de fugir. Então, Miyuki se decidiu:

- Vamos enfrentá-los.

- Amiga, ficou louca? Nós não podemos com eles!!! – respondeu Tatsuko, apavorada.

- Se quiser se esconder, tente fazer isso. Eu vou distraí-los.

- Miyuki, você não pode... Eles vão... – dizia Tatsuko, tentando convencer a amiga.

- Vai, Tatsu! Se esconde. – Disse Miyuki, por fim, correndo.

A Resistente sabia que não teria chance sozinha contra um grupo de Mavericks. Mas iria distraí-los, enquanto a amiga corria.
Miyuki rilhou os dentes. Apanhou uma granada de concussão de seu cinto e a arremessou numa das motocicletas. A explosão arrebentou uma das Chasers inimigas e afastou os Mavericks, dando tempo para que as duas corressem.
Tatsuko se salvou, entrando num veículo da Resistência tombado e lá se refugiando, porém um dos Mavericks apanhou Miyuki.
Decidiu, então por causa dos danos que havia sofrido, que antes de matá-la “brincaria” com ela um pouquinho. Miyuki era muito bonita e isso atraiu-o Maverick, o líder do bando, diga-se de passagem, que ficou muito excitado.
Ele abusou de Miyuki, que começou a gritar. Tatsuko chorava no veículo, ouvindo os gritos desesperados da amiga, mas não conseguiu fazer nada, de tanto medo que sentia.
No momento em que o estupro terminou e o Maverick iria matar Miyuki que sangrava muito, um disparo se fez ouvir. Os Hunters tinham chegado. Com Miyuki ferida, os Mavericks fugiram, pois os Hunters pararam para ajudá-la. Miyuki ficou em péssimo estado e se recuperou em um hospital da cidade. Porém, seu psicológico ficou seriamente abalado. Ela queria se vingar do Maverick que tinha-lhe feito aquilo. Estava traumatizada com o estupro, mas não iria deixar o desgraçado que lhe haviam feito aquilo vivo.
Enquanto estava no hospital, Miyuki começou a se sentir enjoada. Tinha freqüentes crises de vôtimo, e tinha tonturas fortes.
Miyuki não entendia porque estava daquele jeito. Então, veio a saber. A equipe médica lhe disse que estava grávida.
A notícia caiu como uma bomba na Resistência. Miyuki pensou em tirar o filho. Não podia criar uma criança que era fruto de um estupro, ainda mais realizado por um Maverick.
Porém, Tatsuko a convenceu a ter a criança. No tempo em que Miyuki estava no hospital, Tatsuko tinha se envolvido com um rapaz da Resistência, chamado Morisato Sorata, e também estava grávida.
Miyuki não tinha perdoado Tatsuko por deixá-la sozinha entre os Mavericks. Ela dera tempo para a amiga fugir, mas pensou que Tatsuko voltaria para ajudá-la de alguma forma, ou pelo menos lhe ajudaria a conseguir uma rota de fuga. Mas ela deixou-a para trás, para sofrer.
Tatsuko, por sua vez, não entendia por que Miyuki não tinha corrido de primeira. Tinha se preocupado em chamar a atenção dos Mavericks, então a responsabilidade do que tinha acontecido era totalmente dela.
As duas não se falavam, porém Tatsuko fazia comentários maldosos sobre a gravidez de Miyuki. E foi isto que a convenceu a ter o filho.
Meses depois, Miyuki deu à luz a um garoto, chamado de Miyamoto Youta.
O garoto nasceu com um peso ótimo, muito desenvolvido e saudável.
Alguns meses depois, Tatsuko teve um menino, chamado de Morisato Keiichi.


- Espera aí! – Disse Kazuya subitamente, interrompendo Youta. Estava perplexo com a informação. – Então, quer dizer que você é filho de um Maverick, é isso?

- Eu chego lá, Kazuya, tenha calma. – respondeu Youta, voltando à narrativa.

Youta e Keiichi cresciam praticamente juntos. Após o nascimento de seus filhos, Miyuki e Tatsuko, agora a Senhora Morisato, voltaram a se falar, retomando a amizade. Porém, não tinham o mesmo laço de antes.
Todos da Resistência ficaram assustados com o pequeno Youta. Ao 8 meses, já andava e falava. Aos dois anos, agia como uma criança de 4 anos. Era um prodígio.
O pequeno Keiichi também crescia, se tornando um grande amigo de Youta. Assim como Youta, Keiichi possuía uma característica anormal, mas que só se manisfestou quando tinham seus seis anos: Ele era mais rápido e habilidoso do que qualquer criança comum. No mais, Keiichi era apenas uma criança como as outras.
Miyuki voltou ao trabalho, assim que Youta completou quatro anos. Porém, nunca se afastava muito, para poder ver o filho. Todos se admiravam como Miyuki ainda sim trabalhava, e ia em Áreas Maverick, mesmo depois do que havia lhe acontecido.
Um dia, em uma de suas incursões, ela e Tatsuko vistoravam os escombros de uma Área Maverick, quando de repente, caíram dentro de um túnel desabado. Em busca da saída, as duas encontraram uma sala fechada. O local parecia ser uma espécie de templo esquecido, soterrado ali por muitos séculos.
Arrobaram a sala em busca de uma saída.
O que encontraram lá, nem mesmo elas acreditaram. Estavam vendo uma espécie de Dojo¹, destruído pelo tempo.
O local estava vazio, e duas coisas chamavam a atenção. Em duas estátuas feitas de metal puro, em forma de samurais, que estavam com as mãos estendidas, estavam duas Katanas embanhaidas. Eram idênticas em forma e tamanho, porém distintas na coloração. Uma possuía a empunhadura e a bainha negras. A outra, possuia os mesmos detalhes em violeta. Ao Tatsuko desembainhar a Katana púrpura, sua lâmina feriu-lhe o dedo levemente. O gume parecia poder deter e cortar até mesmo metal.
Abaixo das estátuas, estavam inscrições.
Na que segurava a lâmina púrpura, os seguntes dizeres:

“Esta é Tsukishiroken
Lâmina da Lua Branca
Detentora do poder de corte sem Igual
Lâmina que reflete a pureza da Lua
E a escuridão da Noite”

Abaixo da Katana Negra, os dizeres eram os seguintes:

“Esta é Kuroekkusuken
Lâmina do “X” Negro
Detentora do poder de corte
Idêntico a vontade de quem empunha
Lâmina que Reflete
A Escuridão Externa
E a Paz interior”

Num palanque abaixo, onde as duas estátuas se sustentavam, estava escrito algo que abrangia as duas Katanas:

“Lâminas irmãs na criação.
Uma reflexo da Outra.
Lâminas espelhos
Daqueles que as empunham.”

Miyuki e Tatsuko olharam para aquilo. Aquelas Katanas estavam ali deveriam ter séculos. Experimentando na parede a lâmina de Kuroekkusuken, Miyuki viu que ela quebrava com facilidade o metal que recobria o túnel.
Quando as duas retiraram as Lâminas dos pedestais nos quais estavam apoiadas, as estátuas se mexeram. Exibiram pequenos CD’s que deixaram cair nas mãos das duas amigas. Rapidamente, elas os pegaram e levaram-nos embora, abrindo caminho com as Katanas.
Ao saírem do túnel desabado, Miyuki e Tatsuko voltaram para a base da Resistência. Após cuidarem das crianças, analisaram seus achados.
As Lâminas eram feitas de um metal desconhecido. Muito maleável, porém muito resistente e durável. As lâminas geravam em torno de si mesmas um campo magnético, que tornava seu metal monofilamentar, fazendo-o abrir qualquer coisa com facilidade.
Nos CD’s, haviam dados especiais, sobre técnicas de artes marciais, de Kenjutsu. Miyuki lutava com Sabers, e a partir disto criou um estilo próprio. Um estilo que usava a Katana encontrada e que era muito forte.
Miyuki começou a carregar a Katana para onde ia. Usava-a como último recurso, e geralmente, quando recorria a ela, surpreendia os oponentes.
Tatsuko porém, manteve sua Katana guardada e nunca se preocupou em usá-la.
Os filhos de ambas cresciam e enquanto isso, se tornavam mais e mais amigos. Saíam para brincar de “Hunter e Maverick” com freqüência e sempre voltavam machucados. A Mãe de Youta achava graça, mas Tatsuko sempre achava que poderiam se machucar seriamente e os punha de castigo.
Enquanto Youta crescia, ele se interessava pelas técnicas da mãe, que começou a ensiná-lo, com crescente interesse.

E foi então que todos descobriram, com assombro, que Youta não era uma criança normal.

Os médicos sempre haviam dito para Miyuki que havia chances da criança nascer Maverick, devido o “pai” de Youta possuir o DNA alterado. Miyuki resolvera correr o risco e o garoto nascera. Sem o vírus.
Porém, a junção do DNA Maverick com o DNA de um humano comum fez uma mutação genética em Youta, que nasceu com características Maverick.
Aos seis anos, quando iniciou o treinamento, Youta tinha tanta força física quanto a mãe. Era assombroso. Tinha também uma velocidade acima do normal, além de possuir muita resistência física a golpes e ao cansaço. Youta ainda era capaz de se regenerar de pequenos danos em rápida escala, como alguns Mavericks também eram capazes.
Miyuki ficou orgulhosa quando descobriu as habilidades de seu filho, mas a Resistência começou a temer o garoto. Tinham receio de que Youta se revoltasse contra os Resistentes. Afinal, o garoto tinha “sangue Maverick correndo em suas veias.”
Revoltada, Miyuki disse que isso nunca aconteceria. Ela conhecia o filho e sabia que ele não se tornaria Maverick. Ele era um Resistente acima de tudo, e não um monstro. Youta tinha sido educado junto com os Resistentes e sabia que os Mavericks eram um mal.
Porém, além do receio dos Resistentes, havia outro fator: Tatsuko e seu filho Keiichi. Ao ver o filho de Miyuki evoluindo rápido, Tatsuko não pôde deixar de sentir um misto de inveja com admiração. O físico do filho de Miyuki, a rijeza de seus músculos, tudo em Youta impressionavam profundamente Tatsuko.
Keiichi via a Youta como a um ídolo. Adorava o amigo e sempre gostava de brincar com ele e queria ficar sempre perto de Youta. Tanto que insistiu à mãe e ao pai para que lhe deixassem treinar Katana como ele. Tatsuko e o senhor Morisato cederam e Miyuki passou, então, a dar aulas para Keiichi e Youta.
Os dois cresciam rápido, aprendendo o estilo que Miyuki lhes estava ensinando.
Tudo parecia correr bem, até os 12 anos de Youta. Em um dia, numa das missões de rotina de Miyuki, algo grave aconteceu.
Ela voltou carregada e ensangüentada. e Youta correram para vê-la. Ela agonizava. Estava morrendo. Em prantos, um dos Resistentes disse que tinham sofrido um ataque Maverick e que Miyuki lutara com todos os Mavericks. Em especial com um deles, que a encarava ferozmente e...

- ...Seu pai... – disse Miyuki interrompendo o relato. – O Maverick que me atacou agora era seu pai, Youta. Você nasceu por que ele me forçou a isso. Eu fui estuprada por um Maverick e então você nasceu. Você se tornou meu maior presente, Youta, mesmo que tenha vindo de uma forma tão horrível. Assim como a lâmina Kuroekkusuken esconde a luz interior por meio de trevas, o mesmo acontece com você, filho. Apesar de ter sido criado pelas trevas, você é todo de luz... – Miyuki respirou fundo, e segurou o braço de Youta. Sorriu e afagou os cabelos dele com a outra mão:

- Meu lindo garoto... Você será um ótimo guerreiro, o mais forte da Resistência. Eu tenho certeza. Se cuida, tá bom? Promete para mamãe que vai se cuidar... – disse Miyuki, ainda apertando o braço do filho.

Youta começou a chorar. Nunca tinha perguntado sobre seu passado, sobre seu pai. Sentia uma tristeza enorme por tudo que descobrira, além de saber que estava perdendo sua mãe. Segurou com força a mão de Miyuki, ainda chorando. Não queria se separar de Miyuki, não queria perder a única pessoa que tinha no mundo. Chorando, ele disse:

- Por favor, mãe... Não vai embora...

Miyuki sorriu. Abraçou Youta com suas últimas forças. Sorriu para ele, um sorriso que só ela sabia dar. Afagou seus cabelos novamente e disse:

- Querido, você é forte. Eu vou sempre estar com você. Tome. – ela pegou a Katana de sua cintura. – Leva a Kuroekkusuken com você. Ela é sua agora. Guarde-a como uma lembrança de que eu sempre vou estar com você...


Neste momento, Youta interrompeu o relato. Ele estava de cabeça baixa e murmurava alguma coisa. A respiração dos Hunters no quarto estava suspensa. Tinham milhões de perguntas a fazer, mas não conseguiam voltar a si do espanto. Eram revelações muito fortes. Meio Maverick? O que era isso? Mãe estuprada? Pai Maverick? E a Resistência, que o temia? As perguntas pipocavam na mente dos Hunters, mas eles não as faziam. Sabiam que Youta não havia terminado seu relato, e esperariam até que voltasse a falar. 
Quando Youta levantou a cabeça, estava com os olhos avermelhados. Parecia ter chorado, ao lembrar da mãe. Ele estava com um pequeno pingente em forma de um dragão chinês serpenteante, similar a gravura que tinha em seu quarto. Segurava-o, revirando-o nos dedos. Então, respirou fundo e prosseguiu: 

Após aquele dia, Youta começou a dar o máximo de si. O que lhe rendeu o apelido de “Garoto Inumano” entre os mais invejosos.
Com 15 anos, ele e Keiichi integraram a Resistência Civil como membros. Foram confeccionadas armaduras especiais para eles, de metal ligeiramente mais resistente.
Foram muitas as façanhas de Youta como membro da Resistência Civil. Fez poucos amigos na Resistência, dentre estes uma médica chamada Devon. Esta sempre cuidava dos ferimentos graves de Youta, e ficava maravilhada com a sua “autocura” como tinha apelidado a regeneração de Youta.
Youta, apesar de ter uma relação razoavelmente boa com os outros Resistentes, jamais esqueceu a morte de sua mãe. Ele queria se vingar. A Resistência se opunha fortemente à qualquer investida contra os Mavericks.
Foi esta a época em que Youta pensou em abandonar a Resistência e integrar os Maverick Hunters. Desta forma, poderia encontrar seu pai e matá-lo. Mataria todos os Mavericks que encontrasse. Com 17 anos teve uma discussão acalorada com o Comandante Jason, pois queria caçar o estuprador e assassino de sua mãe. Jason disse que a Resistência Civil não empreenderia uma caçada contra o Maverick que matara Miyuki. Youta então, decidiu abandonar a base Resistente.
Mas surgiu um problema de última hora: Morisato tinha enlouquecido. Desde que integraram as tropas da Resistência Civil, Morisato usava um Saber. Porém, a lâmina deste estava cada vez mais fraca e menos poderosa. Um dia, Morisato simplesmente apareceu com a Katana de sua mãe, a Tsukishiroken, e começou a treinar com Youta. Isto foi logo após um combate forçado contra um Maverick que Morisato e Youta tinham encontrado.
Tatsuko e Sorata tinham desaparecido naquele dia, e Youta foi procurá-los após o treino, para perguntar-lhes porque não tinham dado antes a lâmina à Keiichi.
Encontrou-os retalhados no quarto deles. Com cortes feitos pela própria Katana de Keiichi.
Youta ficou furioso e foi resolver o assunto com Keiichi.
Este o recebeu sorrindo, como sempre. Mas os olhos de Morisato estavam arroxeados e ele segurava a Katana com um ar inocente. Youta o acusou de ter assassinado os próprios pais e Morisato apenas sorriu. Em seguida, atacou Youta, com grande velocidade, e um combate se iniciou.
O fatídico combate no qual Youta recebera sua cicatriz. Ainda que com dificuldade, Youta venceu o combate e quando ia matar Morisato, este fugiu, jogando terra em seus olhos. E ninguém da Resistência sequer tentou impedir Keiichi de fugir.
Isto foi a gota d’água para Youta. No mesmo dia, arrumou suas coisas. Iria atrás do Maverick assassino de sua mãe e de Morisato.
Com a ajuda do mecânico Kamino, consertou uma Ride Chaser e confeccionou uma armadura bem melhor. Munido disto e de sua Katana, Youta entrou na Base Hunter.


...E é isto... O resto, como dizem, é história. – disse Youta concluindo o relato. Estavam todos sentados em suas macas agora, olhando para o Capitão que acabara de falar.

Himiko encarou profundamente o capitão. Parecia que iria explodir de curiosidade. Ainda sim, se conteve e apenas voltou a cabeça para Kazuya. Este se levantava e apontava para Youta, com certa agressividade:

- Você é meio Maverick? E por isso você é mais forte que nós, é isso? – disse ele alterado. Em seguida sorriu: - De minha parte, parece que você é o Capitão certo para nossa equipe. Todos nós somos diferentes, e nunca fomos aceitos por isso. Vi você lutando com o Morisato brevemente, e você tem coragem e honra. 

- É isso aí, cara! – Disse Victor, batendo em sua perna com a mão espalmada. – Pode contar com a gente.

- Capitão, eu vi o senhor lutando com o tal de Keiichi. O Senhor realmente tem coragem e é muito forte. Gostaria que soubesse que, pela primeira vez, tenho fé em um líder de tropa. E não importa se o senhor é meio Maverick. Gosto do senhor mesmo assim. – disse Himiko, agora sorrindo.

- Obrigado, Hunters. – disse Youta, com um leve sorriso. – Mas apesar de estar satisfeito, gostaria de lhes avisar que ficarem presos aqui na Resistência Civil por mais algum tempo. Devido à interferência elétrica que sofreram e minha queda na água, nossos comunicadores estão defeituosos. Além disso, estamos muito feridos para prosseguir. E a Resistência Civil precisa de ajuda.

- Depois de tudo o que eles fizeram por você, ainda vai ajudá-los?!?! – perguntou Chrono indignado.

- Não é pelos Resistentes. É pelos civis. Agora, descansem. Eu tenho que ter uma conversa com a equipe mecânica. - disse Youta, concluindo e saindo.

Os Hunters concordaram. Finalmente tinham entendido o por quê seu capitão era daquela maneira. Os Hunters entreolharam-se e voltaram suas cabeças para Akira, como se buscassem um julgamento. Mas o que quer que esperavam dele, ele não concretizou, pois ficou em silêncio.

Assim que Youta saía da enfermaria, viu que um rapaz avançava em sua direção. Era Lance, o irmão de Ariel. Vinha caminhando em direção a porta do quarto dos Hunters, mas parou ao ver Youta. Sorriu satisfeito e disse:

- Então, ao que devemos a honra da visita ilustre, senhor Miyamoto Youta?

O tom de voz de Lance era perigosamente irônico. Youta estreitou os olhos. E respondeu:

- Nada de especial. Apenas um engano da Resistência. E o senhor seria...

-Ah, perdão, não me apresentei. Sou Lance Masters, da divisão de defesa. Muito prazer. – disse Lance se curvando.

Youta retribuiu a curvatura. Olhava o rapaz. O nome “Masters” era o mesmo da menina que cuidara dele, a tal de Ariel. Agora se lembrava, Ariel tinha dito “Espere até o Nii-san saber disso.”
O rapaz deveria ser irmão da menina. Assim, isso explicaria como esse tal de Lance sabia quem era Youta.
Os dois se encararam por algum tempo, até Lance dizer:

- Espero que sua visita seja breve, Sr. Youta. Ou nós seremos obrigados a interrompê-la. Passar bem...

E o rapaz virou as costas, começando a se afastar.
Até ser violentamente agarrado pelo pescoço. Surpreso, o rapaz Resistente mal teve tempo de ver que Youta o segurava pelo pescoço e o erguia contra a parede, colocando sua Katana entre os olhos dele. Youta murmurou:

- Não gosto de ameaças. Prefiro ação...

E quando ia estocar a lâmina entre os olhos de Lance, soltou-o no chão. Lance escorregou pela parede e caiu, ficando sentado no chão. Ele ofegava e tossia, devido à pressão. Youta então disse, olhando para o Resistente:

- Só tente me desafiar quando tiver poder suficiente para isso. Do contrário, você será seguramente morto. Entendido?

E em seguida, Youta virou as costas, deixando Lance furioso e estatelado no chão.
Youta não estava nem um pouco preocupado com Lance. Queria saber de seu equipamentos e de seus Hunters. Sua armadura tinha sido reparada, e ele queria saber quem tinha sido o responsável.
Súbito, viu um rapaz de cabelos ruivos passar rindo com ferramentas na cintura. Ele tinha os cabelos longos e presos num rabo de cavalo que lhe alcançava as costas. Usava um macacão azul escuro, e botas estilo coturno. Luvas marrons sujas de graxa completavam a indumentária do rapaz. E pelo físico desenvolvido, devia ter no mínimo 25 anos. Devia ser um mecânico e Youta supôs que ele devesse saber algo sobre seu equipamento. O mecânico falava sozinho murmurando enquanto ria. Youta mesmo achando estranho, começou a acompanhá-lo, chegando próximo a ele. Quando ia cutucá-lo nas costas, para chamar-lhe a atenção, o mecânico entrou em um quarto, o mesmo que Youta tinha visto Ariel entrar.
A moça dormia profundamente, com a cabeça apoiada no peito do rapaz deitado na cama. Os braços da garota estavam cruzados próximos a cabeça, fazendo com que esta repousasse com mais conforto sobre o peito do rapaz adormecido. Seus cabelos se espalhavam sobre ele, e o caderno de anotações jazia caído no chão, de um dos lados da cadeira. O mecânico entrou sem fazer barulho, mas quando se voltou para fechar a porta, deu de cara com Youta, que tentava ver quem era o rapaz deitado.
O rapaz soltou um grito que surpreendeu Youta. A voz era estridente e esganiçada, o que para um homem daqueles, soava no mínimo esquisita:

- AHHHHHH!!!! QUEM DIABOS É O URUBU?!?!

Ariel se levantou num sobressalto, mas o rapaz não se mexeu. Ela olhou desesperada para o mecânico e disse: 

- O que que foi, Zeta!?

O Mecânico, o tal de Zeta, apontou para Youta e disse esbravejando:

- O tiozinho aqui me assustou! Entrou atrás de mim! Logo de mim, que odeio macho atrás de mim!!!

A Garota loura riu brevemente. E Youta ainda sem entender, disse:

- Eu queria uma informação, mas acho que você não pode me dar. Por isso vou saind...

Foi quando os olhos de Youta caíram sobre o criado mudo. Sem fala, ele travou. Correu então em direção ao rapaz e disse, de supetão:

- Capitão Ekkusu Whight!!!